Quíron, o mais nobre dos centauros


Quíron, na mitologia grega, era um centauro considerado superior por seus próprios pares. Ao contrário do resto dos centauros que, como os sátiros, eram notórios por serem bebedores contumazes e indisciplinados, delinqüentes sem cultura e propensos à violência quando ébrios, Quíron era inteligente, civilizado, bondoso e célebre por seu conhecimento e habilidade com a medicina. De acordo com um mito arcaico foi criado por Cronos (Saturno, para os romanos), que, depois de ter assumido a forma de um cavalo para se esconder de sua esposa, Réia, engravidou a ninfa Filira. A linhagem de Quíron também era diferente dos outros centauros, que eram filhos do Sol e das nuvens de chuva; os gregos do período clássico consideravam-nos frutos da união entre o rei Ixíon, atado permanentemente a um disco de fogo no Tártaro, e Nefele ("nuvem"), que Zeus teria criado à forma e semelhança de Hera.
Abandonado, Quíron foi encontrado por Apolo, que o criou como pai adotivo e lhe ensinou todos os seus conhecimentos: artes, música, poesia, ética, filosofia, artes divinatórias e profecias, terapias curativas e ciência. Tradicionalmente habitava o Monte Pélion. Ali se casou com Cariclo, também uma ninfa, que lhe deu três filhas: Hipe (Melanipe ou Euípe), Endeis e Ocírroe, além de um filho, Caristo. Grande curandeiro, astrólogo e um respeitado oráculo, Quíron era tido como o último dos centauros, e altamente reverenciado como professor e tutor. Entre seus pupilos estavam diversos heróis, como Asclépio, Aristeu, Ajax, Enéas, Actéon, Ceneu, Teseu, Aquiles, Jasão, Peleu, Télamon, Héracles, Oileu, Fênix e, em algumas versões do mito, Dioniso.

Sua nobreza também se reflete na história que narra sua morte: Quíron teria sacrificado sua vida, permitindo assim que a humanidade obtivesse o uso do fogo. Isto ocorreu durante a visita de Héracles à caverna de Folo, no Monte Pélion, na Tessália, enquanto visitava seu amigo, durante o quarto de seus doze trabalhos, no qual derrotou o Javali de Erimanto. Enquanto estavam fazendo uma refeição, Héracles pediu vinho para acompanhar a comida. Folo, que comia sua comida crua, estranhou. Ele havia recebido do deus Dioniso uma jarra de um vinho sagrado anteriormente, que deveria ser conservado para o resto dos centauros até que fosse a hora certa de ser aberto. Diante do pedido de Héracles, Folo sentiu-se constrangido a oferecer o vinho santo. O herói o agarrou de suas mãos e o abriu, deixando que seus vapores e aromas saíssem da garrafa e intoxicassem os centauros liderados por Nesso, que estavam reunidos do lado de fora da caverna e passaram imediatamente a arremessar pedras e galhos. Héracles disparou diversas flechas envenenadas contra eles para afastá-los. Uma delas atingiu Quíron na coxa. Já Folo saiu do fundo da caverna, onde havia se refugiado, para observar a destruição e, ao puxar uma das flechas do corpo de um dos centauros, perguntou-se como podia uma coisa tão pequena causar tanta morte e destruição. Ao dizer isso, deixou a flecha cair de sua mão sobre o seu casco, o que o matou instantaneamente.
A flecha não matou Quíron, pois, sendo filho de um titã, era imortal, porém provocou-lhe dores terríveis e incessantes. Coube assim a Héracles fazer um acordo com Zeus, trocando a imortalidade de Quíron pela vida de Prometeu, que roubara o fogo dos deuses e o dera aos homens e, por isso, fora condenado a padecer eternamente amarrado a um rochedo enquanto um pássaro devorava seu fígado, que voltava a crescer no dia seguinte. Zeus, que afirmara que só o libertaria se um imortal abrisse mão de sua imortalidade e fosse para o Hades, o reino dos mortos, em seu lugar, concordou, liberando Quíron de seu sofrimento para morrer tranquilamente. O deus o homenageou, colocando-o no céu como a constelação que chamamos de Sagitário (do latim sagitta, "flecha").

Algumas fontes especulam que Quíron seria originalmente um deus exclusivo da Tessália, posteriormente absorvido pelo panteão grego na forma de um centauro.

Imagens:
*Quíron
*Quíron e Teseu
*Quíron